28 de novembro de 2010

C-A-G-E

Que vontade tenho eu de ser boa
Se meu reforço só aparece quando sou má
Por que enfiarei minhas garras na maldade
Se me tratam como parasita, sem nenhuma verdade.

Querem acabar com meu desejo da luta
Com minha anarquia
Minha vontade de mudar as coisas
Tirando-me o gozo de viver
Transformando-me numa pobre moribunda.

O mundo me criou para ser normal
Cega, surda, muda, heterossexual
Aprisionaram-me numa cela
Acabando com a minha privacidade
Dizendo que só as grades me trariam segurança
De verdade.

Não posso, não vou ser assim
Preciso de liberdade, confiança e amor
Que parece até ser extinto
Nessa realidade de mentira.

27 de novembro de 2010

DE VOCÊ EM VOCÊ

De você, ficou teu cheiro
Suado no meu corpo
Minhas roupas
Minha camisa amarela
Com cheiro de tua pele.

Em você, deve ter ficado meu sorriso
Que algo me diz que está sempre presente
Mesmo quando estou longe
E você sabe que estou pensando em você.

De você, ficou em mim
Tuas mil e uma manias
De mexer a boca, falar primeiro
Olhar para mim com aqueles olhos apaixonados.

Em você, devem ter ficado minhas palavras
Que não param de sair
De dizer, que tenho a dizer,
E tanta coisa, que até esqueci.

De você, ficou tua sensualidade
Tua sedução, tua aventura
Que me enche de vontade
De fazer-te minha nesse instante.

De você, em você, ficamos nós
Desde o momento que te vi indo embora
Com promessas de amanhã voltar
Desde o momento que repetimos o mesmo gesto
Que espantadas, nos assustamos
Com toda essa sincronia
Com todo esse amor
Todas essas manias
Todo esse charme e harmonia
Que só você me trás
Quando diz:
É para sempre
E eu digo:
Acredito.

18 de novembro de 2010

CAUTION

Quero você / Você / Você / Você / Você / Você / Você

Só você...

Venha que
Te confio e confirmo.

Cuidado
Com meu risco.

Devagar
Que me entrego.

Não penso e repenso.

 A deixo, o abandone

Vamos riscar/arriscar nossos traços/braços/abraços
e nossos medos/anseios/seios/seios/seios...

Só eu
E
você.

Prometo te cuidar
Como cuido dos meus sonhos.

- Watch out, girl. Your love is fucked.

16 de novembro de 2010

Libertinagem Infantil

Coração despedaçou
A platéia toda se foi
Da cama ela levantou
Como se não fosse mais nada
Partiu.

Meu orgulho dominou
E o ego, se abriu
Depois dela, teve mais
E mais, anos afins.

Ainda precisa de compaixão
Pra lutar contra nem sabe o que
Ajuda, sempre é o bastante
Ao menos para uma garrafa com álcool.

Dizem ainda: Que seja poeta
Essa desgraçada e libertina
Tão pequena e corrompida,
Os versos feitos de suas mãos
Dona de muitos prazeres,
Dores e amores.

E é isso: Que seja little e poeta. 

15 de novembro de 2010

Contorno de um dia feliz

E eu já sei que você é uma parte de mim, pois é em você que eu penso em todos os momentos, todas as horas. E é você, você, é você que eu quero levar para sempre comigo, para onde quer que eu vá. Por que é você que cuida de mim da forma mais linda do mundo e principalmente por que são seus braços que retomam o traço da minha cintura e abraça bem bem bem bem forte me fazendo esquecer das coisas ruins... E eu gosto de todas essas coisas, e eu repito pra mim mesma o quanto é grande essa sorte que eu tenho por ter te achado, quando eu sei que você repete aí para si mesma o quanto é grande tua sorte por ter me achado, e é repetindo, vivendo, construindo e revivendo que é com você que eu quero passar o resto da minha vida. Eu te amo por que você me ama e é assim que adoçamos nossas vidas. 

Obrigada por existir, meu benzinho. =)




14 de novembro de 2010

Sargento Solidão


Volta pra casa, tensão do cão. Tudo escuro e parece que alguém enfiou uma faca na tua garganta – ao menos ela não está aqui, se acontecer merda, que se vá sozinha. – Fica pensando. Quando aparece alguém, atravessa a rua, sete minutos o trajeto se parece com sete horas, lugar maldito. Se tivesse grana pegaria um táxi, - ao menos ela não está aqui – pensa novamente. A coisa já ta virando melodrama, mas as mãos não param de tremer, essas mãos que carregam livros, um para sua estante, outro pronto para ser restaurado, imagina arte. Quando se está sobre tensão, ela sempre pensa em arte, arte, arte, arte, talvez tenham coisas mais importantes para se imaginar num momento tenso como esse. Coisas além de Caio Fernando, Virginia Woolf, tenso como talvez um King... Tem um trecho de um livro preferido, que ele diz que se é poeta quando se vive poesia, e se vive.

Já está chegando, acalme-se, menina. Já está perto. Mãos suando. Está fazendo um calor infernal aqui, não é? Todas as luzes da rua apagadas. Atravessando a ponte e logo passa um carro, claro, movimento ainda se tem, mas não de pessoas, está chegando, se acalme, se acalme CA-CE-TE. Ele chega à sua direção e a luz intensa do farol ofusca sua visão, pense em arte, pense em arte mesmo sem ver o que tem na sua frente, pense em arte.

O carro para, de dentro dele desce dois: Baixos, gordos, nojentos, brancos. Gente podre do caralho. Anda mais rápido, PORRA, CORRE, CACETE. VOCÊ QUER MORRER? CORRE, CORRE, não dá tempo, eles são mais rápidos, te pegam, colocam dentro do carro. E aí, benzinho? Cadê a história de sapatão agora, hein? Te vi beijando mulher esses dias, só tava esperando colocar as mãos em você, garotinha, agora vou te mostrar como é que tem que ser feito, vou te mostar como que é a vida, você vai me agradecer, vai ver, afinal: Todo mundo goza, do jeito que Jesus gosta. Abaixa as calças, coisa mais escrota. Não adianta gritar mais, havia dois, um no volante, à noite.

Ela estava com a mochila nas costas, havia acabado de ganhar seu presentinho mensal, ele abre, pega e esvazia toda sua mochila no chão, lá encontra fotos lindas dela com sua amada, algumas cartas “Só sei viver se for por você...”. Chega mensagem, daí ela chora enquanto ele enfia aquela coisa nojenta, ela chora... Ela pensa no que pode acontecer depois... O que a garota iria dizer talvez me liga quando chegar em casa, honey, desculpa por não ter te levado, fiquei com medo... Te amo... Alguma coisa assim, mas agora não tem mais jeito, ele não para, careca, escroto, ESCROTO, ESCROTO, ESCROTO. Ele mete não tendo mais dó de nada. Você parece virgenzinha, meu amor. Tira o pau e goza na tua blusa branquinha, lavada pela mamãe.

Agora acabou, pense no lado bom, acabou... Segue, segue, não para a porra do carro. Segue pra estrada. E segue, para num lugar fodido. DESCE DO CARRO, SAPATÃO DO CACETE, DESCE DO CARRO! E ela desce, e ela pensa na casa que nunca teve, no casamento que nunca teve, olha pra aliança, ele tira no meio do início da estrada, ataca bem longe e diz que agora, benzinho, ninguém vai te salvar, por que o amor não existe na hora da morte, o amor só existe nas horas boas, ele grita. Viado enrustido e frustrado. Sente mais nojo ainda quando vê as tatuagens do braço dele, ridículo, skinhead de bosta, Nazi... O amor existe, seu bosta, fica pensando quieta, nessa altura não consegue mais esboçar nenhum som, a garganta não deixa mais falar, a voz não sai... Pensa que nunca dormiu ao lado dela. E aqueles dias? Foram tão tão bons, suas mãos tocando meu corpo... Pensa no cheiro dela, nas coisas que poderia E QUERIA dizer antes de ir embora. E pede, por favor, por favor, me deixa falar a última porra pra ela... Daí pega o celular, aquele que andava sempre junto, e escreve “Te amo” manda para aquele número já tão decorado. E vai, vai, vai, cacete, mata logo, se é isso que você quer... FILHO DA PUTA, DESGRAÇADO! Consegue gritar, talvez a voz tensa saído um pouco rouca, mas ela grita com todas suas forças, ele bate sua cabeça no mato, enche tudo de terra, porra de morte sem um pingo de poesia, ela consegue gritar FILHO DA PUTA, FILHO DA PUTA, FILHO DA PUUUUTAAAAAAAA... Você quer morrer, é isso? Continua batendo, não consegue mais falar, abrir os olhos, respirar... Ele levanta, pega o revólver.

O barulho do gatilho é o barulho da morte, e a morte não volta atrás.


Carolina Moreira

13 de novembro de 2010

Frango de padaria fede


- Gostei da pontualidade. – Ela disse.

Café ou chá de camomila? Queria mesmo alguma coisa ardente – Água Ardente – mas a grana está curta, meu amor, digo pra mim mesma. Hoje você toma chazinho e amanhã você pode vê-la, fazer qualquer coisa legal, como cinema, livraria, é pequena demais parar ir a algum Rock Bar, como o Morrison. Às vezes a gente precisa de emoções, coisas diferentes, vê se me entende, vida de poeta não é conformista. Quando precisa da terapia, ela não pode. Puta que pariu. Se usasse drogas ainda teria a cocaína, se fumasse ainda teria o cigarro, sorte que ama e ainda tem amor. Amor constrói, a ausência derruba. Derruba o muro, castelo, sei lá o que por mais poético que possa parecer tudo incluso num texto sem sentido. Mas você tem ainda a certeza absolutamente clara que ninguém vai derrubar teu castelo bonito dessa vez, isso traz uma paz do caralho. Já quis escrever sem vírgula, parágrafo, letra MAIÚSCULA-MINÚSCULA, mas não pode, o perfeccionismo não deixa.

Esperando o telefone tocar, qualquer coisa como oi tudo bem, tudo e você, mas de alguém especial, aquele alguém do deserto. Carência afetiva machuca, cara, mata de verdade. Fica faltando um pedaço que o drama não consegue substituir. Quando não se sabe lidar com as faltas tudo fica três vezes pior. Voltando pra Casa, quase chorando, tinha aquelas porras daqueles frangos nojentos que enfiam a lingüiça no cu pra ficar recheado, ele fedia a carne morta, graças ao capeta sou vegetariana.