Moro em Guarulhos. Tenho muita dificuldade para lembrar de nomes. Queria saber tocar violão direito. Compro filmes que eu gosto para poder assistir muitas vezes. Sou apaixonada por músicas estranhas. Queria cantar direito. Tenho preguiça de levantar pela manhã. Me apaixono muito fácil. Odeio ficar perto de pessoas desconhecidas. Mamãe diz que eu sou viciada em internet. Adoro receber cartas. Gosto muito de dias chuvosos, embora eles me deixem meio triste. Sou muito dramática. Reclamo muito. Gosto de sentir o cheiro das pessoas. Sou impaciente. Sinto necessidade escrever. Não sei cozinhar. Sou vegetariana. Amo Caio Fernando. Gosto de andar de mãos dadas com alguém. Adoro cerveja e uma boa conversa. Jogo xadrez muito bem. Não sei acalmar as pessoas. Adoro animais. Queria ser mais determinada. Um abraço me acalma de verdade. Sou sensível. Sorrisos me encantam. Gosto de atenção. Ver filmes com alguém que eu gosto é algo que me deixa muito feliz. Demoro muito para ficar irritada. Sou apaixonada por política. Pego manias das pessoas que eu amo. Reclamo muito. Gosto da companhia de crianças. Bibliotecas me encantam. Quando é preciso, tenho coragem. A primeira coisa que eu reparo em alguém é o olhar. Gosto de cabelos coloridos. Meu sonho é comprar um veleiro. Me arrependo de muitas coisas que eu fiz. Sou impulsiva. Tenho amores platônicos. Sinto medo de muitas coisas. Amo comer pera de manhã. Andar de carro ou ônibus me dá sono. Não consigo me concentrar em algo se estou com alguém que eu gosto muito, não calo a boca. Sonho que seja possível ter amor sem tirania. Não gosto de muitas pessoas. Poucas pessoas me encantam. Riu muito das minhas próprias piadas. Queria escrever mais. Queria ser mais disciplinada. Sou forte. Gosto de ficar acordada à noite. Conversar com crianças espertas é algo que me deixa realmente feliz. Sou mais tímida do que gostaria de ser. Gosto de arte embora não entenda. Sou apaixonada por cinema. Adoro assistir desenhos. Vivi por 14 anos. Minha mãe diz que eu ainda não sei o que quero.
Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo.
30 de abril de 2010
Love Her Madly
Encontrei meu verdadeiro amor, foi em uma manhã de tremores.
Ela olhou-me e disse que talvez, fosse o quê ela precisava, então eu disse “Meu bem, meu bem, espere a saberá!”
O tempo que não passa, e fosse cedo demais, ela não sabia que para mim – Alma de poeta solitária – Já era o tempo... Os tremores sempre venceram, e sempre venceram.
“Don't you love her madly?
Don't you need her badly?
Don't you love her ways?”
Don't you need her badly?
Don't you love her ways?”
Te diria uma palavra meu bem, que mudaria o rumo da história. Te recitaria uma frase que talvez acabasse com os sonhos de solidão. [E-U-T-E-A-MO-B-E-M-M-A-I-S-Q-U-E-U-M-A-C-A-N-Ç-A-O]
“Love me two times, baby
Love me twice today
Love me two times, girl
I'm goin' away
Love me two times, girl
One for tomorrow
One just for today
Love me two times
I'm goin' away”
Love me twice today
Love me two times, girl
I'm goin' away
Love me two times, girl
One for tomorrow
One just for today
Love me two times
I'm goin' away”
Te salvo do seu horror se isso lhe salvar, juro, juro que tento – ao menos.
Vamos fugir da qui? Te guardo em meu peito e corro dentre as montanhas, ninguém nunca irá nos alcançar...
“She lives on love street
lingers long on love street
she has a house and garden
i would like to see what happens”
lingers long on love street
she has a house and garden
i would like to see what happens”
Nãoentenda - Sinta.
29 de abril de 2010
"Eu preciso muito, muito de você. Eu quero muito, muito, você aqui de vez em quando nem que seja muito de vez em quando. Você nem precisa trazer maçãs, nem perguntar se estou melhor, você não precisa trazer nada, só você mesmo. Você nem precisa dizer alguma coisa no telefone, basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio, juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro. Mas eu preciso muito muito de você."
28 de abril de 2010
Piano Bar
"O que você me pede eu não posso fazer
Assim você me perde, eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor.
O que você não pode, eu não vou te pedir.
O que você não quer, eu não quero insistir..."
27 de abril de 2010
Bebi mais. Que não tinha importância. Gostar, o passado, a moça, os pés. Eu não podia ter memórias. E numa batida mais forte da percussão, num rodopio, girando juntos, pedi: ― Deixa eu cuidar de você.
Achava somente tão bom debruçar o rosto naquela curva do pescoço dela...
Toda madura repetindo isso-passa-questão-de-tempo-tudo-bem.
23 de abril de 2010
PropagandaDescarada: CULT N' COOL
Oi?
Então, estou com um blog novo ae... Sobre download de filmes cult, antigos e fodoes...
E ainda é com a Ju :D
Acabei de atualizar um post sobre "Requiem for Dream" Podem ler, comentar, seguir....
Vale à pena dar uma conferida em: http://interesseespecial.blogspot.com/
Ps. Por que eu falo como se alguém fosse ler essa bagaça? huahuahuahuahua
Ps²: Isso é um eufemismo descarado para alguém comentar :P
Então, estou com um blog novo ae... Sobre download de filmes cult, antigos e fodoes...
E ainda é com a Ju :D
Acabei de atualizar um post sobre "Requiem for Dream" Podem ler, comentar, seguir....
Vale à pena dar uma conferida em: http://interesseespecial.blogspot.com/
Ps. Por que eu falo como se alguém fosse ler essa bagaça? huahuahuahuahua
Ps²: Isso é um eufemismo descarado para alguém comentar :P
22 de abril de 2010
Não é um estado temporário. PORRA!
EU SOU
EU SOU
EU SOU
EU SOU
EU SOU
EU SOU
EU SOU
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EU SOU
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N
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S
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EU SOU
EU SOU
EU SOU
EU SOU
DIFERENTE
DETODOSELES
PORRA!
Alice no país da realidade
Contos de fadas me encantam, não é apenas uma história, é bem mais... Chega ser um universo. E um universo de criança, o que é melhor. Existe a inocência sublime, uma coisa que não encontro nos livros policiais. É bem leve e bonito. Se eu pudesse voltar no tempo passaria toda minha infância lendo essas coisas, não que eu tenha sido um exemplo de criança peralta nem nada, mas comecei a gostar de ler lá pelos onze anos... E hoje quando eu ando pelas ruas e vejo crianças de nove e dez anos falando palavrão, cantando aqueles exemplos de músicas horríveis, fico triste.
Minha mãe costuma dizer que eu tenho uns oitenta anos pelo jeito que eu falo, pelas músicas que eu ouço, os livros que eu leio e meu ideais. Eu não vejo nenhuma graça de ficar vivendo nesse universo digital, não tenho nem do que lembrar... Quando eu tiver a idade que aparento, vou dizer para meu filho “Quando eu era adolescente as meninas de doze anos não eram mais virgens, saiam para pegar geral. Livros eram apenas digitais, bibliotecas eram extintas. Professores eram desrespeitados, eu não podia sair de casa com celular, câmera nem nada por que poderia ser assaltada na esquina...”
Por isso eu penso, e mudo, quando eu tiver a idade que aparento, direi ao meu filho “Quando eu era adolescente vivia em um universo diferente de todos, meus armários viviam cheios de livros, meu ipod chamava vitrola, saia pelas ruas cantando Cartola e Beatles. Na minha parede havia um belo poster de um ídolo da minha mente, escrevia contos e poesia... E assim, meu querido, fui feliz”
20 de abril de 2010
Nina
“Eu tenho uma teoria - Os indivíduos se dividem em duas categorias: os ordinários e os extraordinários. Os ordinários são pessoas corretas que vivem na obediência e gostam de ser obedientes, já os extraordinários são os que criam alguma coisa nova, todos os que infligem a velha lei, os destruidores. Os primeiros conservam o mundo como ele é, os outros movem o mundo com um objetivo mesmo que pra isso tenham que cometer um crime.”
- Nina
19 de abril de 2010
"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não consegurás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele(...)"
* Ah, dobradinha de Caio Fernando (L)
"Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada."
18 de abril de 2010
"Eu fico pensando em nós dois
Cada um na sua
Perdidos na cidade nua
Empapuçados de amor
Numa noite de verão
Ai, que coisa boa!
À meia-luz, à sós, à toa
Você e eu somos um
Caso sério
Ao som de um bolero
Dose dupla
Românticos de Cuba Libre
Misto quente
Sanduíche de gente"
(Caso Sério - Ed Motta)
Te amo, de verdade, my girlfriend...
17 de abril de 2010
O Mundo é um moinho
Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés.
SILÊNCIO
Nós andamos em SILÊNCIO
Nós dirigimos em SILÊNCIO
Nós comemos em SILÊNCIO
Nós choramos em SILÊNCIO
Nos matamos em SILÊNCIO
Sempre estamos SOZINHOS
Somos felizes em SILÊNCIO
Somos corajosos em SILÊNCIO
Somos frios em SILÊNCIO
Nos amamos em SILÊNCIO
Nos odiamos – MAIS AINDA – em SILÊNCIO
Sempre estamos SOZINHOS
- por isso que te odeio.
15 de abril de 2010
Você já esteve apaixonado? Horrivel não é? Te deixa vulnerável. Te abre o peito e te abre o coração e quer dizer que alguém pode entrar em você e te detonar por dentro. Você constrói todas essas defesas. Constrói uma armadura completa, e por anos nada pode te machucar, aí uma pessoa estúpida, nada diferente de qualquer outra pessoa estúpida caminha para dentro da sua vida estúpida… Você dá a essa pessoa um pedaço de você. Essa pessoa não pediu por isso. Essa pessoa fez algo besta um dia, como te beijar ou sorrir para você, e aí a sua vida não é mais sua. O amor toma reféns. O amor entra em você. Te come por dentro e te deixa chorando na escuridão, e frases simples como “talvez devêssemos ser apenas amigos” ou “nossa, que perspicaz” se transformam em farpas de vidro movendo-se para dentro do seu coração. Dói. Não apenas na imaginação. Não apenas na mente. É uma dor na alma, uma dor no corpo, uma dor do tipo que-entra-em-você-e-te-arrebenta. Nada deveria ser capaz de fazer isso. Especialmente o amor. Eu odeio o amor.
- Neil Gaiman, Personagem Rose Walker in The Sandman #65
14 de abril de 2010
Poesia, poesia
Poesia, poesia solta
é prosa, palavra, tormento
Poesia, poesia livre
é vida, morte, sofrimento.
Poesia, poesia minha
é bela, poderosa, singela
Poesia, poesia suja
é maravilhosa, intensa, profunda.
Poesia, poesia pra ela
escrevo sem demora, me perco
Poesia, poesia da madrugada
escrevo para relembrar minha estrada.
12 de abril de 2010
Happy Together
“Imagine eu e você, eu imagino
Eu penso em você dia e noite
É o que é certo
Pensar na garota que você ama
E abraçá-la forte
Tão felizes juntos
Não consigo me ver amando ninguém além de você
Por toda minha vida
Quando você está comigo
Querida, os céus serão azuis
Por toda minha vida
Eu e você
E você e eu
Não importa como eles joguem os dados
Tinha que ser
A única pessoa para mim é você
E você para mim
Tão felizes juntos”
Eu penso em você dia e noite
É o que é certo
Pensar na garota que você ama
E abraçá-la forte
Tão felizes juntos
Não consigo me ver amando ninguém além de você
Por toda minha vida
Quando você está comigo
Querida, os céus serão azuis
Por toda minha vida
Eu e você
E você e eu
Não importa como eles joguem os dados
Tinha que ser
A única pessoa para mim é você
E você para mim
Tão felizes juntos”
Ah, quando o peito dói
Coração que remoe
E a dor que queima
Ah, que odor de vento
Misturado com o relento
Traz até a moça solitária
Pensamentos de injustiça
De não ser cantora, artista
Para ser amada e relembrada
Ah, que noite sombria
Sem ela nem ligo de estar assim
Ah, deve haver um jeito de sair daqui
Algum alívio de meio tempo
Que faça lembrar do momento
Que era menos infeliz.
10 de abril de 2010
Na noite, adormeci com tua lembrança
Quando encontrei-te não consegui lhe evitar
Do antes restou somente herança
Que entrego-te por assim lhe amar.
No peito não me sobra mais cansaço
Tenho asco só de pensar em voltar
No delírio louco do que sinto
Não vejo mais razão para voltar.
Querer-te já passou de um encanto
Meu pranto lhe oferto à cuidar
E no calor as luzes adormecem
Criança, estou de novo a delirar.
6 de abril de 2010
Vagina Dentada
Eu deveria cantar.
Rolar de rir ou chorar, eu deveria, mas tinha desaprendido essas coisas. Talvez então pudesse acender uma vela, correr até a igreja da Consolação, rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria e uma Glória ao Pai, tudo que eu lembrava, depois enfiar algum trocado, se tivesse, e nos últimos meses nunca, na caixa de metal "Para as Almas do Purgatório". Agradecer, pedir luz, como nos tempos em que tinha fé.
Bons tempos aqueles, pensei. Acendi um cigarro. E não tomei nenhuma dessas atitudes, dramáticas como se em algum canto houvesse sempre uma câmera cinematográfica à minha espreita. Ou Deus. Sem juiz nem platéia, sem close nem zoom, fiquei ali parado no começo da tarde escaldante de fevereiro, olhando o telefone que acabara e desligar. Nem sequer fiz o sinal da cruz ou levantei os olhos para o céu. O mínimo, suponho, que um sujeito tem a obrigação de fazer nesses casos, mesmo sem nenhuma fé, como se reagisse a uma espécie de reflexo condicionado místico.
Acontecera um milagre. Um milagre à toa, mas básico para quem, como eu, não tinha pais ricos, dinheiro aplicado, imóveis nem herança e apenas tentava viver sozinho numa cidade infernal como aquela que trepidava lá fora, além da janela ainda fechada do apartamento. nada muito sensacional, tipo recuperar de súbito a visão ou erguer-se da cadeira de rodas com o semblante beatificado e a leveza de quem pisa sobre as águas. Embora a miopia ficasse cada vez mais aguda e os joelhos tremessem com freqüência, não sabia se fome crônica ou pura tristeza, meus olhos e pernas ainda funcionavam razoavelmente. Outros órgãos, verdade, bem menos.
Toquei o pescoço. E o cérebro, por exemplo.
Já chega, disse para mim mesmo, parado nu no meio da penumbra gosmenta do meio-dia. Pense nesse milagre, homem. Singelo, quase insignificante na sua simplicidade, o pequeno milagre capaz de trazer alguma paz àquela série de solavancos sem rumo nem ritmo que eu, com certa complacência e nenhuma originalidade, estava habituado a chamar de minha vida, tinha um nome. Chamava-se - um emprego.
Olhei minha cara no velho espelho riscado, as marcas que eu nem sabia mais se pertenciam ao vidro ou à pele, cumprimentei com uma curvatura de cabeça: "Muito bem, parabéns. Você agora tem um emprego". Mas não conseguia sentir nenhum calafrio de dignidade, nenhum frêmito de esperança que pudesse iluminar meus olhos vermelhos ou empurrar para fora meu fatigado peito onde - não queria lembrar, mas lembrei - há menos de uma semana descobrira o primeiro fio de cabelo branco.
Suspirei.
Verdade que só um completo idiota ou alguém totalmente inexperiente sentiria, nem digo êxtase, mas qualquer espécie de animação por ter conseguido um trabalhinho de repórter no Diário da Cidade, talvez o pior jornal do mundo. Acho que ainda não tinha me transformado num idiota, não completamente pelo menos. E quanto à experiência - bem, aquela cara marcada, ainda inchada de sono, com barba de três dias, me observando por entre os risos do espelho, parecia tê-la de sobra. Tudo bem, disse a cara no espelho, já que você prefere mesmo confundir experiência com devastação... Suspirei outra vez. Não, querida cara, encher laudas e laudas nas máquinas de escrever daquele pasquim pré-informático certamente não era motivo para dar pulinhos.
Mas eu tinha que ficar contente. E quando você quer, você fica. Comecei a ficar. Afinal, aquele podia ser o primeiro passo para emergir do pântano de depressão e autopiedade onde refocilava há quase um ano. Gostei tanto da expressão pântano-de-depressão-&-etc. que quase procurei papel para anotá-la. Perdera o vício paranóico de imaginar estar sendo sempre filmado ou avaliado por um deus de olhos multifacetados, como os das moscas, mas não o de estar sendo escrito. Se fosse bailarino, talvez imaginasse estar constantemente, em qualquer movimento, sendo esculpido? Ah, cada gesto, uma verdadeira apologia estética da forma pura.
Era engraçado. E bastante esquizofrênico. mas de repente o real tinha-se tornado bem menos retórico.
"Você começa hoje, cara" - dissera Castilhos no telefone. Com aquela voz no fundo da qual, para manter o velho hábito subliterário, eu poderia localizar algo que chamaria de áspera-ternura-cúmplice, mas na verdade não passava de excesso de nicotina e saco cheio: "e vê se não me faz cagada logo no primeiro dia, oquêi? Garanti pros homens que você é da pesada".
Espantoso: na noite anterior eu fora dormir como um jornalista desempregado, endividado, amargo, solitário e desiludido de quase quarenta anos para acordar no dia seguinte, magicamente, com aquela voz do passado me comunicando pelo telefone que eu era - da pesada. A partir de hoje, uma vida feita de fatos. Ação, movimento, dinamismo. A claquete bate. Deus vira mais uma página de seu infinito, chatíssimo roteiro. O escultor tira outra lasca do mármore.
Coloquei água para fazer café, cogumelos branquicentos cresciam na umidade da cozinha. Simpáticos, até meio bucólicos. Liguei o rádio, entrei no chuveiro. O apartamento era tão pequeno que a gente podia fazer todas essas coisas praticamente ao mesmo tempo. Com uma das mãos, ensaboava a cabeça, com a outra controlava o volume do rádio na sala, enquanto estendia uma das pernas para apagar o fogo quando a água fervesse.
- Eia! Avante! Sus! - gritei embaixo da água gelada. Ai - pi - ai - ô, Silver!
Enquanto ouvi no rádio uma música que parecia conhecida. Dizia qualquer coisa como "a realidade não importa, o que importa é a ilusão", no que eu concordava plenamente. Pelo menos nos últimos meses, não me acontecera nada além de fantasias. Mas a música que ressoava em algum porão da memória era antiga como um bolero, um fox, e o que saía do rádio agora era um desses rocks com baixo elétrico desesperados, percussão envenenada e sintetizadores histéricos. A voz da cantora lembrava vidro moído num liquidificador. De qualquer forma, pensei, a letra está certa. E todas as coisas que eu lembrava, ou achava que lembrava, porque de tanto lembrar delas acabara por transformá-las em mera - e péssima - literatura, já não importavam mais.
O resto do último sabonete escorregou entre meus dedos. Era tão pequeno que desapareceu pelo ralo.
________________
Fonte: ABREU, Caio Fernando. Onde andará Dulce Veiga?
Rolar de rir ou chorar, eu deveria, mas tinha desaprendido essas coisas. Talvez então pudesse acender uma vela, correr até a igreja da Consolação, rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria e uma Glória ao Pai, tudo que eu lembrava, depois enfiar algum trocado, se tivesse, e nos últimos meses nunca, na caixa de metal "Para as Almas do Purgatório". Agradecer, pedir luz, como nos tempos em que tinha fé.
Bons tempos aqueles, pensei. Acendi um cigarro. E não tomei nenhuma dessas atitudes, dramáticas como se em algum canto houvesse sempre uma câmera cinematográfica à minha espreita. Ou Deus. Sem juiz nem platéia, sem close nem zoom, fiquei ali parado no começo da tarde escaldante de fevereiro, olhando o telefone que acabara e desligar. Nem sequer fiz o sinal da cruz ou levantei os olhos para o céu. O mínimo, suponho, que um sujeito tem a obrigação de fazer nesses casos, mesmo sem nenhuma fé, como se reagisse a uma espécie de reflexo condicionado místico.
Acontecera um milagre. Um milagre à toa, mas básico para quem, como eu, não tinha pais ricos, dinheiro aplicado, imóveis nem herança e apenas tentava viver sozinho numa cidade infernal como aquela que trepidava lá fora, além da janela ainda fechada do apartamento. nada muito sensacional, tipo recuperar de súbito a visão ou erguer-se da cadeira de rodas com o semblante beatificado e a leveza de quem pisa sobre as águas. Embora a miopia ficasse cada vez mais aguda e os joelhos tremessem com freqüência, não sabia se fome crônica ou pura tristeza, meus olhos e pernas ainda funcionavam razoavelmente. Outros órgãos, verdade, bem menos.
Toquei o pescoço. E o cérebro, por exemplo.
Já chega, disse para mim mesmo, parado nu no meio da penumbra gosmenta do meio-dia. Pense nesse milagre, homem. Singelo, quase insignificante na sua simplicidade, o pequeno milagre capaz de trazer alguma paz àquela série de solavancos sem rumo nem ritmo que eu, com certa complacência e nenhuma originalidade, estava habituado a chamar de minha vida, tinha um nome. Chamava-se - um emprego.
Olhei minha cara no velho espelho riscado, as marcas que eu nem sabia mais se pertenciam ao vidro ou à pele, cumprimentei com uma curvatura de cabeça: "Muito bem, parabéns. Você agora tem um emprego". Mas não conseguia sentir nenhum calafrio de dignidade, nenhum frêmito de esperança que pudesse iluminar meus olhos vermelhos ou empurrar para fora meu fatigado peito onde - não queria lembrar, mas lembrei - há menos de uma semana descobrira o primeiro fio de cabelo branco.
Suspirei.
Verdade que só um completo idiota ou alguém totalmente inexperiente sentiria, nem digo êxtase, mas qualquer espécie de animação por ter conseguido um trabalhinho de repórter no Diário da Cidade, talvez o pior jornal do mundo. Acho que ainda não tinha me transformado num idiota, não completamente pelo menos. E quanto à experiência - bem, aquela cara marcada, ainda inchada de sono, com barba de três dias, me observando por entre os risos do espelho, parecia tê-la de sobra. Tudo bem, disse a cara no espelho, já que você prefere mesmo confundir experiência com devastação... Suspirei outra vez. Não, querida cara, encher laudas e laudas nas máquinas de escrever daquele pasquim pré-informático certamente não era motivo para dar pulinhos.
Mas eu tinha que ficar contente. E quando você quer, você fica. Comecei a ficar. Afinal, aquele podia ser o primeiro passo para emergir do pântano de depressão e autopiedade onde refocilava há quase um ano. Gostei tanto da expressão pântano-de-depressão-&-etc. que quase procurei papel para anotá-la. Perdera o vício paranóico de imaginar estar sendo sempre filmado ou avaliado por um deus de olhos multifacetados, como os das moscas, mas não o de estar sendo escrito. Se fosse bailarino, talvez imaginasse estar constantemente, em qualquer movimento, sendo esculpido? Ah, cada gesto, uma verdadeira apologia estética da forma pura.
Era engraçado. E bastante esquizofrênico. mas de repente o real tinha-se tornado bem menos retórico.
"Você começa hoje, cara" - dissera Castilhos no telefone. Com aquela voz no fundo da qual, para manter o velho hábito subliterário, eu poderia localizar algo que chamaria de áspera-ternura-cúmplice, mas na verdade não passava de excesso de nicotina e saco cheio: "e vê se não me faz cagada logo no primeiro dia, oquêi? Garanti pros homens que você é da pesada".
Espantoso: na noite anterior eu fora dormir como um jornalista desempregado, endividado, amargo, solitário e desiludido de quase quarenta anos para acordar no dia seguinte, magicamente, com aquela voz do passado me comunicando pelo telefone que eu era - da pesada. A partir de hoje, uma vida feita de fatos. Ação, movimento, dinamismo. A claquete bate. Deus vira mais uma página de seu infinito, chatíssimo roteiro. O escultor tira outra lasca do mármore.
Coloquei água para fazer café, cogumelos branquicentos cresciam na umidade da cozinha. Simpáticos, até meio bucólicos. Liguei o rádio, entrei no chuveiro. O apartamento era tão pequeno que a gente podia fazer todas essas coisas praticamente ao mesmo tempo. Com uma das mãos, ensaboava a cabeça, com a outra controlava o volume do rádio na sala, enquanto estendia uma das pernas para apagar o fogo quando a água fervesse.
- Eia! Avante! Sus! - gritei embaixo da água gelada. Ai - pi - ai - ô, Silver!
Enquanto ouvi no rádio uma música que parecia conhecida. Dizia qualquer coisa como "a realidade não importa, o que importa é a ilusão", no que eu concordava plenamente. Pelo menos nos últimos meses, não me acontecera nada além de fantasias. Mas a música que ressoava em algum porão da memória era antiga como um bolero, um fox, e o que saía do rádio agora era um desses rocks com baixo elétrico desesperados, percussão envenenada e sintetizadores histéricos. A voz da cantora lembrava vidro moído num liquidificador. De qualquer forma, pensei, a letra está certa. E todas as coisas que eu lembrava, ou achava que lembrava, porque de tanto lembrar delas acabara por transformá-las em mera - e péssima - literatura, já não importavam mais.
O resto do último sabonete escorregou entre meus dedos. Era tão pequeno que desapareceu pelo ralo.
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Fonte: ABREU, Caio Fernando. Onde andará Dulce Veiga?
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