Mesmo descrente, o Jakcson resolveu ir até o terreiro. Foi de ônibus, logo que chegou do serviço, às sete e meia. Foram dois coletivos, quarenta cinco minutos de trajeto, mais sete quarteirões, do ponto onde desceu até a casinha amarela de tinta descascada. A casinha antiga, com velas brancas e azuis, depositadas à beira da soleira. A casinha de canteiros de barro na frente, lotados de flores pequenas, brancas e tão perfumadas quanto uma primavera inteira. Quando chegou, a celebração já havia começado. Os tambores soavam, e o piso, forrado de pétalas de rosa, até tremia um pouco. Deixou os sapatos ao lado da porta, junto das outras dezenas de pares, e entrou devagarzinho. O lugar era bem modesto, de chão batido, teto alto e todo de madeira, com as vigas aparecendo. Atrás de uma nevoa cheirosa de incenso, mulheres e homens dançavam em uma roda. De olhos fechados, cantavam letras firmes para Orixás que ele não conhecia. Pediam a presença de forças da natureza. Ao seu lado, as pessoas cantavam juntas, e acompanhavam a música batendo palmas com vigor e alegria. Tinha muitas crianças lá. E muita paz também.
Dois anos se passaram, desde aquela sexta. Hoje é segunda, é de madrugada, e o Jackson já saiu. Pegou a guia de contas azuis, trançou-a entre o tórax e o pescoço, e foi trabalhar.
Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo.
10 de dezembro de 2009
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