23 de julho de 2010

Ontem

Nasci no natal. O parto foi difícil, os médicos não acreditavam que minha mãe iria sobreviver daquela cesariana conturbada. Deixaram várias artérias vazando sangue em seu corpo, junto delas deixaram também más lembranças do começo de vida da sua segunda e última filha.
Não lembro muitas coisas de minha época muito nova, não irei mentir para soar poético nem nada. Lembro de ter sido bem destrutiva, do tipo que os pais tinham vergonha de sair na rua por que sabiam que iriam quebrar tudo o que visse pela frente, era muito falante. Aprendi a ler muito cedo, com cinco anos. Não lia livros, gostava mesmo de gibis e criava muitas histórias sozinha. Me imaginava dentro delas, como se meu mundo fosse uma das histórias das mil e uma noites... Ou algo assim. Gostava muito de desenhos, dos mais violentos.
Nunca tive muitos amigos. Meus amiguinhos eram meus primos da rua de trás, só isso. Eles vinham aqui e eu ia na casa deles, ficou assim até uns sete anos, depois disso nos distanciamos muito, então eu fiquei sozinha. Gostava de me jogar video-game, montar quebra-cabeças e ouvir músicas. Também brincava muito com legos. Era muito apegada ao meu cachorro... Com dez anos eu tive a pior experiência da minha vida, e a primeira ligada com a morte. Não foi um familiar, foi meu pequeno e recém-nascido cachorrinho que eu o levei a uma morte triste e acidental, pretendo não falar sobre isso.

Comecei a fazer amizades com uns doze anos, eles não eram bonzinhos nem nada, mas com eles eu me encontrava. O começo da minha adolescência foi uma coisa louca, intensa, rebelde e triste. Eu vivi com doze anos o que deveria ter vivido com dezessete. Com doze anos eu dei meu primeiro beijo, tive o primeiro pré-namoradinho e conheci meu primeiro e dilacerador amor. De lá pra cá a intensidade foi abaixando e a certeza aumentando. Quando a gente é pequeno parece que tudo é grande, e nunca nos damos em conta que o que é pequeno é a gente, e não as coisas que são grandes demais. Daí quando crescemos tudo parece muito pequeno pra gente. Já fui engolida pelo mundo várias vezes. Deis de então eu crio mundos e engulo todos. Todas as vezes que o mundo me engoliu foi obrigado a me vomitar.

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