19 de julho de 2009

Jack, O estripador

JACK, O ESTRIPADOR
Em texto inédito, Rubem Fonseca faz uma lista de serial killers que entraram para a história e discute a possível identidade de Jack, o estripador.


Assassinos em série ou "
serial killers
" existem no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Entre os nossos podemos citar Febrônio, talvez o mais antigo de todos, Francisco Rocha, o Chico do Picadinho, Marcelo Costa, o Vampiro de Niterói, Pedro Rodrigues, o Pedrinho Matador, Francisco de Assis Pereira, o motoboy conhecido como o assassino do Parque. Todos acabaram identificados e presos e gozaram, os daqui e os do exterior, de uma fama instantânea e evanescente. Mas um deles, que aterrorizou a cidade de Londres e nunca foi identificado ou preso, mantém a sua fama há cento e dezoito anos. Seu apelido Jack the Ripper. Ele matava prostitutas e as estripava, ou seja, arrancava-lhes as tripas, daí o seu apelido, Estripador.

Há mais de um século, portanto, são realizadas especulações sobre quem seria o Estripador. Inúmeros livros foram escritos, reportagens foram realizadas, filmes foram produzidos sobre esse personagem, uns contradizendo os outros. Sua identidade e motivações ainda não foram estabelecidas de maneira irretorquível. Só existe acordo quanto ao seu
modus operandi
. Tudo indica que o Estripador pagava para praticar o coito anal com a prostituta – isso era feito na rua, sim, na Londres daquele tempo não havia motéis ou outros locais mais adequados para esse tipo de atividade – e no momento em que ela se curvava levantando as saias com as duas mãos, o assassino se aproveitava da indefensibilidade da mulher para estrangulá-la. Ele não chegava a ter relações sexuais com a puta, nem se masturbava sobre o cadáver.

Depois de matá-la, o Estripador estendia sua vítima no chão, em decúbito dorsal e começava por cortar-lhe a garganta. Em seguida cortava uma das suas vísceras, ao mesmo tempo troféu e assinatura, a comprovação do seu triunfo. O exame dos corpos das suas cinco (pelo menos) vítimas levou os legistas à conclusão de que ele tinha algum conhecimento de anatomia, pois a remoção do órgão era feita de maneira hábil, fosse um rim, o fígado ou os órgãos genitais.

Era assim que ele operava. Mas, quem era ele?

Seria M.J. Druit, que uns dizem ter sido advogado, outros que eram um médico? Não, muito improvável, segundo a maioria das pesquisas.

Aaron Kosminiski, o judeu polonês que logo após os crimes foi internado num asilo de loucos? Podemos tirá-lo da lista de suspeitos.

Michael Ostrog? Era apenas um maluco.

Em 1970 surgiu a teoria de que o Estripador era o neto da rainha Vitória, príncipe Albert Victor, duque de Clarence e Avondale. Essa tese era muito atraente, permitia visões conspiratórias, a própria policia teria encoberto as pistas que levariam ao príncipe etc. Durante muito tempo muita gente acreditou (e acredita ainda hoje) que o príncipe era de fato o Estripador.

A teoria moderna mais interessante é a da escritora de ficção Patricia Cornwell, que escreveu uma tese sobre o assunto.

Consagrada autora de romances policiais, ela sempre foi muito atraída pelo mistério de Jack, o Estripador. Depois de uma minuciosa pesquisa, na qual, segundo consta, ela despendeu mais de seis milhões de dólares, Patricia Cornwell escreveu o livro
Portrait of a Killer: Jack the Ripper, Case Closed.


No livro, publicado no início do século 21, ela afirma que o Estripador é Walter Richard Sickert, nascido em 1860, em Munich, conhecido pintor impressionista, que retratava prostitutas ameaçadas por homens sinistros, freqüentador da sociedade londrina, discípulo de Whistler e amigo de Degas. Segundo as pesquisas que a equipe de Patrícia realizou, Sickert tinha personalidade psicopática, era um homem bonito e charmoso, gostava de manipular as mulheres.

Uma parte do dinheiro gasto pela escritora foi usada em testes de DNA, no caso DNA mitocondrial, que dura mais do que o DNA nuclear, ainda que não seja tão confiável. Também o exame das cartas que o Estripador teria escrito mostra que o papel era idêntico ao das cartas de Sickert. O exame grafotécnico comprova que a grafia dos dois, do criminoso e do suspeito, era semelhante. Muitas outras pesquisas foram realizadas pelos peritos contratados por Patricia Cornwell, todas comprovando a sua teoria.

Muita gente acredita que a tese de Patricia Cornwell encerra o assunto. Tenho dúvidas, não creio que seja "
a closed case
", como ela afirma, e não me surpreenderei se outras teses, também aparentemente verdadeiras, surgirem no futuro.

Finalmente, qual a motivação de Jack, o Estripador? As mulheres escolhidas eram prostitutas por serem mais fáceis de matar ou porque ele era um moralista que estava ministrando o castigo que elas mereciam?

Os modernos estudos sobre o perfil dos "
serial killers
" indicam que eles, em sua maioria, são homens brancos, com Q.I. acima da média, desajustados no trabalho e na escola, de famílias instáveis, mães dominadoras, que odiavam os pais, sofreram abusos – psicológicos, físicos e/ou sexuais – quando crianças, com tendências ao voyeurismo, fetichismo e piromania, propensões suicidas, interessados em pornografia sadomasoquista, padeceram de enurese (urinavam na cama, quando crianças) e começaram suas carreiras torturando animais.

Todos nós conhecemos pessoas que se enquadram nesse perfil. Não?

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